Por José Mário, Silva Júnior e Xavier Gondim
J.U – como começou sua vida profissional?
S. O – As coisas mais importantes que aconteceram na minha vida foram nos anos 80. Foi em 80 que eu entrei para militar na Igreja Católica, em 81 que eu passei no vestibular e foi nos anos 80 que eu comecei a militar no PT.
J.U – Qual a sua formação?
S.O – Minha graduação é em história, na UERN, e tenho uma especialização em educação popular pela UFPB. Em 79 eu comecei a dar aula e em 80 fui contratada como servidora pública, como professora. Assim veio o engajamento, meu olhar crítico sobre as coisas, o censo de justiça, valores, eu adquiri na igreja. Claro que a gente leva os valores da família, mas nessa época eu já era adulta, fui aperfeiçoando os valores e adquirindo outros na igreja, logo em seguida começou a militância no PT. Essa militância já foi por causa dessa prática na igreja. Com a chegada de Pe. Pedro em 79, quando veio assumir a paróquia, houve um chamamento da juventude. Nessa época era um momento em que a igreja estava se abrindo e também os movimentos sociais, era final da ditadura e os movimentos sociais no país estavam reiniciando.
J.U – A igreja a levou a política?
S.O – Exatamente. O que levou a política foi à militância na igreja. Pe. Pedro foi à figura que chamou a juventude para a igreja, e chamar para a igreja não era chamar só para ir à missa, as celebrações, a celebração ela fazia parte de um contexto maior que era celebrar alguma coisa. Celebrar a mudança de vida, celebrar outra forma de vida, celebrar a construção de outra realidade. Isso ai a juventude foi chamada para construir, interferir na realidade, com a energia que a juventude tem. O primeiro momento que a gente teve aqui foi com a catequese, que é uma coisa normal. Na igreja sempre a gente começa com a catequese, porque é o primeiro momento onde a gente vai estudando, você vai conhecendo mais e como éramos um grupo bom de jovens, na época era Luiz Gonzaga, Marta, Aldemir, Francisvan, Dapaz, Eriberto, Ceição Gondim, depois Ceicinha, veio Júnior, Xavier que eram fruto do ‘Perseverante’. Eu e Luiz fomos a Recife fazer um curso. A gente tinha uma ordem, a gente formava um grupo de adolescentes que se chamava de Perseverante. Nessa época os trabalhos que a gente fazia eram com as famílias, nas casas das pessoas fazendo o trabalho de evangelização. E a juventude era um olho na bíblia e outro na realidade. Todo o nosso trabalho era fundamentado no evangelho, mas com um olhar direcionado para a realidade onde a gente vivia que é idéia do evangelho. Parte da igreja transformar a realidade a partir do que o evangelho de Jesus Cristo diz. O lema de Pe. Pedro que era “o amor as pessoas”, tudo isso fundamentou a prática da gente, que era eu vim para que todos tenham vida e viva em abundância. Jesus Cristo diz que todos vivam em abundância, e viver em abundância para nós é viver bem, ter alimento, ter casa, viver abundantemente bem. Toda nossa luta era essa. No princípio foi incompreendido, depois o grupo foi se fortalecendo. Eu atuava no sindicato dos trabalhadores rurais, a gente foi ajudando a fortalecer a luta da agricultura, as pessoas que eram sindicalizadas fazendo explanação de como a vida poderia ser melhor no campo. No início dos anos 80 foi o ano de implantação do assentamento Palheiros, claro que não foi uma luta com violência, foi uma luta pacífica já que a terra foi desapropriada, mas não deixa de ser uma luta para que as coisas fossem acontecendo e na implantação do assentamento Palheiros a igreja estava muito presente. Foi crescendo, crescendo, foi quando eu entrei na universidade fui conhecendo outras pessoas, militantes do PT e aqui a gente começou a discutir e fundamos o PT em 1986.
J.U – A senhora é uma das fundadoras do PT?
S.O – Sou uma das fundadoras do PT. Em 1986 a gente fundou o PT com o apoio de Hugo Manso, que era o presidente do diretório estadual. Naquela época o PT tinha uma prática de fazer um trabalho de base, como era o que a gente fazia. Teve o resgate do Jornal Juventude Rural que a gente fazia na casa Paroquial de Campo Grande que era onde tinha estrutura. Então a gente ia pra lá fazer as matérias, imprimia o jornal e trazia para distribuir. o pagamento dos aposentados que era feito em Mossoró a igreja conseguiu trazer pra cá. Teve a luta do posto avançado do Banco do Brasil, o primeiro encontro universitário de Upanema, inclusive a gente enfrentou uma dificuldade muito grande, na época a administração local não queria a entrada de Aécio aqui por questões políticas, porque Aécio já era militante do PT, para participar de uma mesa de debates a noite. Tinha uma coisa muito importante para a gente que era o som da igreja, era para nós um instrumento fundamental. O som da igreja era o nosso canal para trazer mais pessoas, todos os dias a gente fazia um programa, reflexão, conversava com as pessoas, juntava as pessoas em torno das nossas lutas, foi nessa época também que a gente tinha uma base do sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras em educação, articulamos diversas greves para melhorias das condições do trabalho, a luta da CNEC, pela estadualização, a gente não era contra a CNEC, a questão era porque não tinha quem assumisse a CNEC, a escola como um todo. Toda uma luta, primeiro para ter eleição direta, foi até Luiz Gonzaga nosso diretor, o outro candidato era Luiz Jairo, então foi uma luta muito grande que a gente enfrentou, foi a primeira eleição para diretor da CNEC. Foi uma luta acirrada, depois a gente saiu até comemorando nas ruas, porque foi uma luta e vitória grandiosa. Depois foi a luta pela estadualização da CNEC, uma luta que a gente encampou, porque a escola não tinha mais sustentabilidade só pela CNEC. Foi uma luta que a gente enfrentou e deu certo, porque a escola foi estadualizada. Em 1986 eu já tinha terminado a faculdade e agora era a luta pela categoria, o salário dos professores e a gente fundou o partido. Nessa época a gente fundou o partido aqui, em Campo Grande, Gov. Dix-Sept Rosado, foram diversos município que fundaram o PT. Pela proximidade com Campo Grande foi muito conjunta essa luta. Em 1988 foi a campanha para prefeito, éramos Bezerra Filho, Valério e eu.
J.U – Como foi à escolha para seu nome?
S.O – Naquela época a primeira coisa que achávamos importante era lançar nomes, mesmo com toda dificuldade era importante botar o PT na rua, dizer à sociedade que existia alternativa, isso era no país inteiro, o PT tinha apenas oito anos, então era muito importante que a gente lançasse candidaturas para colocar um projeto na rua, ajudar as pessoas a refletirem, discutir, não era lançar por lançar, sabíamos que a possibilidade de ganhar era mínima, o que a gente queria era colocar o nome na rua e discutir as propostas. Então entre os filiados fizemos uma discussão e apareceu meu nome. De qualquer maneira é uma surpresa grande que a gente tem, a não ser que a pessoa tenha vontade de ser, mas todo mundo na primeira reação é não mas a gente foi amadurecendo. Fizemos escolhas para vereadores que foram Ção, João Lopes, Nil, Luiz. Lembro que Crispiniano pegou o slogan de “Upanema pede Socorro”, naquela época era eu, Bezerra Filho e Valério, meu vice era Evangelista, ele muito inteligente fez o trocadilho com essa questão.
J.U – Como era a situação política de Upanema?
S.O – Era muito difícil, os meninos eram tidos como maloqueiros, eram muitos jovens e as pessoas que eram acostumadas a fazerem a política do mesmo jeito conservadores, o pessoal ficou muito surpreso, a gente não tinha dinheiro, acho que o grupo inteiro, somente eu trabalhava, não lembro se João Lopes já era professor, algumas pessoas só tinha um emprego. No começo umas pessoas ficaram surpresas achando que a gente era muito ousado, outras pessoas levavam na brincadeira achavam que a gente estava brincando de fazer política e a gente não brincou, imediatamente a gente lançou logo o jornal. O slogan da minha campanha era Upanema pede Socorro e nosso jornal era Plantão, tinha a ver com plantão Upanema pede Socorro, mas tinha também com o PT que era massificar a idéia do PT, então a gente lançou o jornal e colocou na rua, as idéias e o que a gente discutia a gente fazia a campanha fazíamos andando de casa em casa. Aqui em casa a gente tinha duas motos e a gente levava seis pessoas, cinco, quatro depende. Tinha uma caminhonete e era o nosso palanque. A estrutura era lançada daqui de casa. A nossa sede é onde é hoje o cartório de Susa, a gente alugou uma sede e a gente foi ousado, fizemos camisetas, claro que as camisetas a gente vendia para fazer campanha, a gente colocou propaganda política nos postes e a polícia obrigou a gente a tirar até meio dia desse dia, a gente queimou a pele no sol.
J.U – O número de votos obtidos na campanha?
S.O – Foram 106 votos. Valeram porque era uma mulher candidata, uma coisa rara, a gente enfrentou muita dificuldade financeira, mas isso a gente conseguia com a criatividade, conseguimos fazer a campanha. Usávamos o som de Dr. Cândido, já que o da igreja já não podia ser usado já que eu era candidata, foi importante o som que ele colocou na praça que a gente usava como espaço para discussões. A gente fazia comício na feira com uma caixa de som e a campanha era corpo a corpo, em cima de um trator gastava duas, três horas pra ir até o Palheiros. Era uma campanha que tinha muita energia, em nenhum momento a gente achava que não valia à pena. Nós tivemos 106 votos, os vereadores eu não sei, no entanto foi uma campanha que mexeu muito com Upanema. As pessoas olhavam desconfiadas, outras com raiva, outras se perguntavam como era que a gente tinha coragem, houve um debate, nessa época a Comissão de Justiça e Paz da Diocese faziam debates nos municípios, teve todo um processo de preparação, lembro que tinha uma secretaria de informação, fui pra lá e tivemos uma conversa para as possíveis perguntas, o que a gente queria pautar, a gente tinha um plano governo, em nível nacional que nos orientava, era uma cartilha de orientação, não era uma campanha solta, irresponsável, era uma campanha do partido apoiada nacionalmente, inclusive nosso slogan muita gente até hoje ainda lembra que foi muito criativo. Numericamente tem um resultado significativo, o PT nunca apagou a chama, de todas as vezes que Lula foi candidato ele perdeu só uma vez em Upanema, foi contra Fernando Henrique.
J.U – O que mudou de 1988 para 1992 que teve como candidato do PT Francisvan?
S.O – Eu continuava na luta, mas nós achávamos interessante que outra pessoa fosse o candidato. A minha contribuição naquele momento posso dizer que foi muito difícil, era uma sociedade conservadora, machista como essa brasileira, então as pessoas falavam, diziam coisas em relação a mim, que mulher não sabe administrar, não tem capacidade e o mundo está provando que isso é um erro e que mulheres são capazes sim. Gostaria de falar do debate. O debate foi no clube e tinha muita gente, um debate muito concorrido, realmente eu fui uma candidata que me preparei, os outros não se prepararam porque tinham as perguntas entre si e as perguntas que as pessoas faziam, então o debate foi muito importante para nós. Nós saímos disparados, só que entre o resultado do debate e as discussões políticas com essa compra de voto, essa forma de fazer política, ela sobrepõe a fazer uma discussão política séria. As pessoas reconheciam que eu tinha me preparado, mas essa forma conservadora de fazer política é decidida por outras questões. Em 92 decidimos que era importante lançarmos a candidatura. Com a história do PT, que estava se fortalecendo, a gente decidiu lançar Francisvan. Foi muito importante termos dado continuidade a política, com a candidatura de Francisvan, porque estava recente e tinha tido já a campanha de Lula de 89. Toda campanha é diferente, mas aquela campanha foi um marco na História do Brasil, inclusive nos quatro meses da campanha de Lula eu não estava aqui, estava em São Paulo fazendo um curso pela igreja, eu vi a campanha em São Paulo.
As pessoas que fundaram o PT começaram a migrar, começaram a morar em outros lugares. Eu sai, Zé Carlos saiu, Ceição, Francisvan, Luiz, Marta, Evangelista, todos saíram, então é assim, as pessoas que fundaram o partido foram morar fora, de certa forma eu estava a frente e nós sempre nos encontrávamos. Quando não tinha diretório, mas tinha sempre comissão provisória, nunca foi uma coisa morta, o PT nunca deixou de existir em Upanema. Agora qual era a nossa compreensão, nós estávamos fora e conversávamos e nos reuníamos, o PT deveria ser assumido por quem estava aqui, porque esta é uma discussão dentro do partido, mora na cidade, nós não temos um cabresto no partido, então eu estou lá em Natal e eu devia está a frente do PT?, acho que deve assumir a frente do partido em Upanema quem está em Upanema. Quem vai construir, embora demore um pouco, mas que surjam pessoas que queiram construir o partido. Pessoas que eram muito jovens naquela época deveriam assumir, elas vieram e formam hoje o partido, a gente é do partido, mas eu estou um Natal, a maioria está em Mossoró, mas o PT acontece em Upanema independente de eu estar ou não.
J.U – Por que o PT nunca elegeu um vereador e por que não aproveitou a onda Lula?
S.O – O PT de Upanema nunca fez coligação. E nós achávamos que o PT para lançar candidatura tinha que está organizado internamente, está fortalecido. E foi esse processo. Mas até você ter um partido que assuma lançar candidatura tem uma diferença, uma distância. As pessoas foram se organizando e como eu já disse o PT nunca deixou de existir. Nas campanhas de Lula para presidente nós estávamos presente e fazíamos a campanha aqui, sempre fizemos campanha, tivemos campanha estadual, federal, senadores, presidente da república, não lançávamos candidato a prefeitura, mas nos outros níveis a gente sempre fez campanha, não porque a gente era um partido de campanha política, ao mesmo tempo a gente estava tentando construir com quem estava aqui para construir o partido. Nos anos 80 a luta era mais forte, não sei se por causa do final da ditadura, era uma luta política muito forte. Nos anos 90 os movimentos foram surgindo pautando outras questões, a partir da constituição de 88 a gente teve que começar a pensar políticas públicas, o poder foi descentralizado para o município, à gente foi encampando outras formas de luta e isso no país inteiro. As mulheres foram se organizando mais, os movimentos ecológicos, movimentos homossexuais, e outros movimentos foram surgindo paralelamente. Mas o que eu estou dizendo é que Upanema não está solto, então neste momento de 1988 até 2008 a sociedade passou por outras questões, a juventude de meu tempo teve a chance de vivenciar tudo aquilo, a juventude daquele tempo não teve a mesma oportunidade de hoje. Também no plano local os anos 80 foram muito catastróficos aqui em Upanema. Foi um momento de administrações contrárias ao que deve ser a gestão pública. Com a descentralização das políticas, eram muitas perguntas, o que fazer num município desse, então a gente foi se organizando e o PT ficou. Com a eleição de Lula o PT passou a ter outro arco de aliança no nível nacional, isso também abriu em outros níveis estaduais e municipais. Talvez essa aliança de 2008, foi uma aliança fruto dessa abertura de alianças que aconteceu no PT nacional.
J.U – O PT tem um projeto político futuro em Upanema?
S.O – Nós nos reunimos recentemente e discutimos apenas as eleições de 2010. A gente não sabe o que vai acontecer em 2012, nós estamos pensando nas eleições desse ano, claro que quando nós fizemos uma aliança em 2008, foi à primeira aliança que nós fizemos, a idéia é que o partido cresça. Nós temos o comando da Secretaria Municipal de Agricultura, uma secretaria que tem dado resultados, uma secretaria que tem construído para Upanema e nós queremos discutir isso com o partido. Qualquer partido que faz uma aliança não é para se aniquilar não, é para fortalecer e fortalecer o partido que está fazendo aliança.
Apesar do PT não ter tido candidatos a prefeito nas últimas eleições não quer dizer que deixou de pensar em Upanema, nós sempre tivemos posição e as pessoas de Upanema sempre sabiam qual era a nossa posição, nós nunca negamos, nunca deixamos de fazer oposição aos governos que nós tínhamos discordâncias, as pessoas sabiam e nós sempre dissemos, sempre assumimos, nunca recuamos nessa oposição. Nós sempre estivemos presentes. O que nós pensamos é que o PT não é um partido só de campanha política, o PT é um partido que pensa no país, nós não tínhamos candidatura, mas nós tínhamos posição e nós sabíamos e discutíamos o que era importante para Upanema. É tanto que se não estivéssemos no PT estávamos nas mais diversas movimentações fortalecendo o sindicato, estávamos fazendo discussões com as mulheres, estávamos fazendo discussões com a juventude, com a educação, agricultura, nós tínhamos posição em relação à saúde, porque o PT não fica só pensando em eleição, em candidatura, o PT pensa em Upanema, não considero isso uma falha, o partido ele tem estratégias políticas.
J.U – Qual cargo a senhora ocupa atualmente no Ministério de Desenvolvimento Agrário - MDA.
S.O – Eu sou delegada substituta, fui convidada por Hugo Manso para trabalhar na delegacia do ministério. Esse ministério tem uma história importante, o nome dele foi criado por Fernando Henrique, foi mais uma resposta com aquilo que aconteceu no Pará, a chacina. Esse ministério nunca foi estruturado, ninguém nunca investiu. Em 2004 Lula entrou para investir na agricultura familiar, 70% da alimentação que nós comemos vem da agricultura familiar, não é das grandes plantações, então é preciso investir nisso dai, a discussão da soberania alimentar, a discussão na alimentação no mundo, então era preciso investir em cada estado e para isso foi criado uma delegacia, de delegação e não de prender. O primeiro delegado foi Paulo Sidney e quando ele assumiu o INCRA Hugo Manso foi ser delegado do MDA e ele me convidou para ser substituta dele e ainda sou. Quando ele se afastou em março eu assumi interinamente, fiquei como delegada titular até que um outro delegado fosse nomeado, mas eu ainda continuo sendo a substituta.
S.O – Eu sou delegada substituta, fui convidada por Hugo Manso para trabalhar na delegacia do ministério. Esse ministério tem uma história importante, o nome dele foi criado por Fernando Henrique, foi mais uma resposta com aquilo que aconteceu no Pará, a chacina. Esse ministério nunca foi estruturado, ninguém nunca investiu. Em 2004 Lula entrou para investir na agricultura familiar, 70% da alimentação que nós comemos vem da agricultura familiar, não é das grandes plantações, então é preciso investir nisso dai, a discussão da soberania alimentar, a discussão na alimentação no mundo, então era preciso investir em cada estado e para isso foi criado uma delegacia, de delegação e não de prender. O primeiro delegado foi Paulo Sidney e quando ele assumiu o INCRA Hugo Manso foi ser delegado do MDA e ele me convidou para ser substituta dele e ainda sou. Quando ele se afastou em março eu assumi interinamente, fiquei como delegada titular até que um outro delegado fosse nomeado, mas eu ainda continuo sendo a substituta.
J.U – Hugo Manso falou na entrevista que concedeu ao nosso jornal que Upanema hoje tem 14 assentamentos, mais de 1000 famílias, e que estava sendo reformadas as casas, banheiros. Gostaríamos de saber como está o andamento desses projetos.
S.O – As casas dos assentamentos elas foram reformadas, é claro que as reformas não vêm todas ao mesmo tempo para todos os assentamentos, são considerados alguns itens. Nos assentamentos tem diversas políticas e programas para os assentamentos, eles vão sendo executados da maneira em que eles vão terminando um programa ou paralelamente. Nem todos os assentamentos recebem as casas ao mesmo tempo, são de várias formas, mas eu digo a você que eu vi algumas reformas em assentamentos e são casas dignas.
J.U – Existe um projeto de irrigação que Upanema foi contemplado?
S.O – Já conseguiu. É um projeto que já está acertado, de mais de 400 mil reais, ele é maior que muitas emendas parlamentares. O projeto está para ser executado, tem todo um processo e nesse momento, de junho até outubro, as coisas precisam mais demoradas. Eu acho que o Brasil tem um prejuízo com eleições de dois em dois anos, tem coisas no ministério que a gente não pode fazer. Pode parecer política e as coisas ficam paradas até que as eleições passem. Esse projeto é um recurso garantido de mais de 400 mil reais esse kit de irrigação. Temos ainda aqui o compra direta que é executado pela EMATER juntamente com a secretaria de agricultura, essa compra direta tem recurso do MDS e do MDA para o fortalecimento da agricultura familiar. Estamos agora numa luta grande que é a implantação do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). No mínimo 30% da alimentação escolar do município deve ser da agricultura familiar. Se não tiver no município, compra no município vizinho, tendo que ser da agricultura familiar. No mínimo 30%, então isso quer dizer que pode ser 100% a merenda da agricultura familiar. Isso é uma conquista grande, uma melhor alimentação na escola, é um incentivo a produção, a qualidade da produção, a organização da produção porque as pessoas precisam de nota fiscal e tem que se organizar também nesse sentido porque para a prefeitura comprar tem que ter nota fiscal. Existe uma forma de fazer isso, qualquer agricultor ou agricultora familiar pode fazer isso, ter uma nota fiscal em seu nome e confeccionar um bloco de notas e poder vender para a prefeitura a alimentação. Essa é uma conquista fundamental, muito importante dentro dessa discussão da alimentação ou da soberania alimentar.
J.U – Como está o centro de inclusão digital?
S.O – O Ministério da Agricultura em parceria com o Ministério das Comunicações tem esse projeto bastante significativo. Nós estamos agora num processo de receber toda a documentação onde vão ser implantados os equipamentos. Por que demorou um pouco? Nós tivemos problemas, eu não saberei dizer qual é o local, estava tudo certo entregue os equipamentos, mas o que acontece, o centro ele só pode funcionar numa localidade rural, um espaço que seja da comunidade, ele não pode funcionar numa escola, porque a escola tem horário definido e o centro é da comunidade e ele não pode ser esse ou aquele horário. A comunidade que vai ver se pode ou não, o centro é da comunidade. É para a comunidade as casas digitais e tem que ser com segurança porque são dez computadores, com internet, uma impressora, a mobilha. Agora a gente só libera com as fotografias dos locais onde vai funcionar. Aqui no estado nós temos, como referência, vou citar aqui perto de nós, Campo Grande na comunidade Bom Jesus. Os locais já foram definidos na reunião do território da cidadania. Upanema faz parte do território da cidadania sertão do Apodi. A reunião do colegiado em Apodi, onde Upanema estava presente foram definidos os locais onde vão ter centro de inclusão digital. Não saberei dizer agora porque no território sertão do Apodi é onde tem mais casa digital e eu não saberei dizer onde é ou se aqui em Upanema tem. No Rio Grande do Norte onde vai ter mais casas digitais é no sertão do Apodi, pelo nível de organização, também teve uma chamada pública que as prefeituras podiam mandar documentação. Na semana passada, até quinta-feira foi o dia em que nós recebemos as fotografias dos locais para enviar para Brasília para serem liberados os equipamentos.
S.O – Upanema é um município que tem história de organização política, da juventude, das mulheres, existe uma marca em Upanema da organização e da luta, nós vivemos muitos momentos. Eu estava me lembrando ontem do primeiro parque, eu era criança, aquele parque era para nós uma coisa maravilhosa, só era ruim quando Ivo de Maria Romana e Mazoni botava a gente e ficava rodando. As nossas mães varriam, iam para lá varrer, mamãe e essas mulheres por aqui. Isso é uma atitude que dar sentido da participação. A juventude ou a gente na igreja ou no partido, eu digo que Upanema é uma cidade que as pessoas sempre tem grupos, pessoas que tem uma visão crítica das coisas, que discute as coisas, que discute o município, Upanema não é um município alienado, claro que a gente recebe influência como a vizinhança com Mossoró. Hoje Upanema é um município que tem a organização das mulheres bastante fortalecida, ontem nós tínhamos mais de 100 mulheres no encontro. Ontem foi realizado o VI Encontro Municipal das Trabalhadoras Rurais de Upanema. Upanema foi o município do estado que mais enviou mulheres para a marcha mundial que foi realizada em São Paulo, foram dez dias que as mulheres marcharam. Quando éramos do grupo de jovens daqui, nós éramos da Diocese de Mossoró, era um grupo de jovens mais organizados, na paróquia era a maior equipe de comunicação. Tínhamos uma equipe de comunicação que denunciava na Rádio Rural. No ano de 85 que teve uma enchente aqui, nós saíamos fazendo um levantamento da situação, ali na Rua das Pedrinhas as casas viraram lama, porque as enchentes foram muito grandes. A gente fez todo um trabalho para a distribuição de cestas básicas, a gente fazia todo um trabalho de discussão sobre a ação do município e a gente era muito perseguido nessa época, foi na época que Francisvan foi demitido em praça pública como servidor público. Eu lembro que a abertura do encontro universitário foi na calçada da igreja cantando o Hino Nacional, a gente não tinha outro espaço, era na calçada da igreja porque tinha o som. A festa foi no churrascão porque tinha que alugar ao finado Gerson, o clube era da prefeitura e ainda quiseram promover uma festa na mesma data, e o que nós fizemos? Mulher não paga, e veio todo mundo para nossa festa. Eu lembro que o grupo de jovens achava muito importante o espaço para se reunir, tinha uma coisa interessante no PT de como a gente se estruturava com nossa criatividade. Tinha uma empresa de derivados de petróleo que o marco era uma estrela, a gente tirou o nome da empresa aproveitou a estrela que era vermelha e a gente aproveitou essa placa e fizemos a do PT. Nós não tínhamos recursos para fazer uma placa. Lembro que a gente ganhou essa sede vizinho a casa de Maria Pretinha, antigo açougue. O prédio era da igreja e disse que a gente podia utilizar, o prédio tinha uns quatro dedos só de salitro, foi uma luta, temos fotos, foi uma luta para a gente ter um lugar fixo pra gente sentar e discutir. Conseguimos pegar essa sede e refazer todinha, limpar e deixá-la como espaço que a juventude tinha como referência para se reunir. A sede era da igreja, mas a gente tinha reunião todos os domingos, eu lamento muito hoje que a juventude não tenha seu espaço construído para fazer as discussões, ter a oportunidade que eu tive e outras tiveram. Uma vez nos fizemos um desfile aqui, acho que foi dia 16 de setembro, um momento de protesto, aproveitamos o 16 de setembro e fizemos uma marcha silenciosa.
J.U – Mensagem:
S.O – Eu sou uma pessoa feliz. Eu digo que a minha lista de reclamação pra Deus é bem pequenininha porque sou muito gratificada com a vida pelas oportunidades que eu tive de participação na luta para uma vida melhor de muitas pessoas, sou grata por ter tido a oportunidade de participar de lutas coletivas que deixaram o mundo um pouco melhor, mais feliz. Para juventude é dizer que a oportunidade que aparecer para lutar pela coletividade, por uma vida melhor para o outro não perca. São oportunidades como essa que valem a pena, não deixem a vida passar, e essa juventude tem muita energia e eu acho que a gente conseguiu fazer muita coisa porque éramos jovens e os jovens são ousados, o que é diferente de inconseqüente e irresponsável. Então aproveite enquanto é tempo para participar de projetos importantes porque acredito que outro mundo sempre é possível.
Parabéns Socorro pela ótima entrevista seja sempre assim essa pessoa simples que pensa na coletividade e na família como base da sua vida pessoal e profissional.
ResponderExcluirCom toda a minha Admiração
Yamashiro Oliveira
Acho que Socorro deveria sair candidata a prefeita de Upanema. Tem uma história muito bonita. Parabéns!!
ResponderExcluirMuito boa sua entrevista, parabéns pelas lutas-que não foram em vão-pelas conquistas-que não foram poucas-. Acho que esse deve ser o pensamento de um verdadeiro cristão,olhando sempre a nossa realidade,a quem está ao nosso redor,foi pra isso que Cristo veio ao mundo,para acabar com a desigualdade das pessoas.
ResponderExcluirParabéns Socorro pela sua entrevista, eu conheço muio bem sua luta, sempre você foi e será essa figura de pessoa simples mas com coragem de vencer e fazer muito mais pelo povo de Upanema.Você merece uma oportunidade na vida pública.
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